Novas denúncias divulgadas nesta segunda-feira sobre o serviço secreto
americano levantam suspeitas de que os Estados Unidos mantinham um
centro de espionagem em Brasília. Os documentos publicados na edição de
hoje do jornal "O Globo" foram obtidos pelo ex-técnico da Agência de
Segurança Nacional dos Estados Unidos Edward Snowden. Em entrevista à
repórter Sônia Bridi, o jornalista americano que revelou o esquema diz
ainda que representações diplomáticas do Brasil no exterior podem ter
sido alvo de espionagem.
Uma base da espionagem americana na capital do Brasil. Novos documentos
vazados por Edward Snowden, ex-técnico da Agência de Segurança Nacional
dos Estados Unidos,
a NSA, publicados nesta segunda-feira pelo jornal O Globo mostram que,
em 2002, essa base em Brasília abrigava agentes da Agência Central de
Inteligência, a CIA, e da NSA.
Em um mapa, é possível ver que a capital do Brasil foi ou é uma das 16
sedes de uma rede mundial de espionagem chamada Fornsat - abreviatura de
Foreign Satellites - satélites estrangeiros. Com esse programa, os
americanos estariam espionando as comunicações brasileiras por satélite.
Sete das bases do Fornsat são em países parceiros dos Estados Unidos,
como Austrália e Inglaterra. A do Brasil é uma das instaladas pelos
próprios americanos. O Brasil usa oito satélites, para telefonia e
transmissão de dados. As Forças Armadas usam bandas exclusivas de
satélite para as comunicações militares brasileiras.
Glenn Greenwald é o jornalista americano, residente no Rio, que recebeu os cinco mil documentos vazados por Edward Snowden.
“Eu não posso falar que tenho um documento que mostra que Estados
Unidos estão roubando informação militar do Brasil, mas com certeza eles
estão coletando informações no satélite que é usado pelo governo
brasileiro para comunicações militares e outras coisas também”, diz
Greenwald.
Documentos vazados por Edward Snowden indicam que, das 75 cidades onde o
programa Fornsat está presente, somente Brasília e Nova Déli, na
Índia, abrigam espiões da CIA e da NSA numa força tarefa chamada de
"Special Colecction Service".
Os papéis internos da NSA a que Snowden teve acesso dizem que o foco
desse trabalho estava em converter sinais de inteligência captados no
exterior a partir de estabelecimentos oficiais dos Estados Unidos, como
as embaixadas. E afirmam que os agentes trabalharam no Brasil
disfarçados de diplomatas. Esse documento é de 2002 e não há outros mais
recentes que permitam dizer se procedimento permanece ou foi extinto.
Jornal Nacional: Qual o interesse deles em espionar o governo do
Brasil, que é um país que não é inimigo e que não é uma fonte conhecida
de terroristas?
Greenwald: É competição, competição para energia, para negócios, para todas as coisas que os Estados Unidos estão querendo. Então se eles podem saber quais objetivos, quais planos o governo brasileiro tem para tudo, eles podem ter vantagem para competição.
Greenwald: É competição, competição para energia, para negócios, para todas as coisas que os Estados Unidos estão querendo. Então se eles podem saber quais objetivos, quais planos o governo brasileiro tem para tudo, eles podem ter vantagem para competição.
A política internacional do Brasil também estaria sendo monitorada. Um
documento mais recente, de 2010, mostra que a embaixada do Brasil em
Washington e a representação do Brasil junto às Nações Unidas, que fica
em Nova York, também podem ter sido alvo da espionagem da NSA, em mais
de um tipo de programa de coleta de dados.
O documento, super secreto, registra um programa chamado Sigad e aponta
a embaixada do Brasil em Washington como target – alvo, em português -
de uma missão. Ser monitorada por dois programas: Lifesaver, que envia
para a NSA cópias de tudo o que está gravado nos discos rígidos dos
computadores onde está instalado; e o Highlands, que faz coleta direta
de sinais digitais. O mesmo documento aponta outro alvo - a missão
diplomática do Brasil na ONU. A missão tem o Lifesaver, o Highlands e
também o Vagrant, que copia as telas abertas nos computadores.
Não há outros documentos que comprovem se essa invasão foi de fato
efetuada, nem se a prática persiste. O documento a que o jornal O Globo
teve acesso relaciona os alvos - targets - e as missões, mas não
especifica se elas foram mesmo levadas a cabo. Lifesaver, Highlands e
Vagrant são programas que exigem acesso às máquinas, às centrais de
telefone e aos computadores. Mas não está claro se esse acesso precisa
ser físico, ou se isso pode ser feito remotamente.
Para Greenwald, o objetivo era claro. “Tudo que eles estão teclando,
tudo que eles estão recebendo, todos os e-mails, todos os faxes que eles
estão mandando. Mas também em Brasília eles estão invadindo as
comunicações eletrônicas, porque tem pessoas que trabalham para o NSA
que estão fingindo que são diplomatas”
Greenwald é um dos autores da reportagem deste domingo de O Globo, que
já havia mostrado, com documentos vazados por Edward Snowden, que
milhões de brasileiros têm suas comunicações monitoradas pela NSA. Para
saber quem liga para quem, tempo da ligação, e a identificação dos
computadores de onde saem as mensagens, a NSA atua aqui com três
programas : Fairview, Prism e X-Keyscore.
Para essa espionagem massiva, os americanos precisam ter acesso aos
bancos de dados das empresas brasileiras de telefonia e internet. Não há
informações sobre como esse acesso é feito e se há colaboração das
empresas brasileiras na espionagem.
Fonte: JORNAL NACIONAL
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