Há quase uma histeria disfarçada entre os blocos políticos sergipanos, que se pretendem enfrentar nas próximas eleições.
Os dois blocos que se apresentaram antagônicos na primeira hora, um
liderado por Jackson Barreto e o outro comandado pelos irmãos Amorim,
anseiam por João Alves Filho, como se ele fosse o maná caído do céu,
embora essa comparação, para alguns religiosos, possa beirar a heresia.
Jackson e Amorim têm certeza, ou quase, de que o prefeito
de Aracaju ficará com cada um deles. O que é que João tem de tão
grandioso para ser cobiçado pelos dois lados? Vejam que eu estou
deixando Valadares em segundo plano, porque JB e Amorim o tratam assim.
Para eles, João está em primeiro lugar. Além disso, não consigo
vislumbrar que Valadares venha a ser uma terceira ou quarta via, mesmo
que, por uma ironia do destino, ou do PSB, ele possa se candidatar a
governador. Se bem que ele tem um peso eleitoral de não se jogar fora e
um partido estruturado em vários Municípios. Valadares ainda tem uma
força eleitoral nada desprezível, embora possa não ser tanta assim
quanto ele pretende que seja. Ele sabe que político que não se valoriza
acaba virando maracujá de fim de feira. Murcho. Valadares não é tolo.
Dizem por aí que ele ainda fará aliança com um dos lados. Ou não?
Quanto a João, ele tem até agora a dianteira nas pesquisas. Ele tem um
nome muito bom diante do eleitorado, ao menos do eleitorado que sempre
votou nele e de parte do eleitorado que se desencantou com os últimos
anos de governança petista/peemedebista. Faltou a João uma gestão,
nesses quinze meses de mandato, que enchesse os olhos dos aracajuanos e o
catapultasse de vez para consolidar uma candidatura simplesmente
imbatível. E falta-lhe uma estrutura partidária no interior do Estado
que ajude a consolidar o seu nome, a facilitar
a sua chegada aos Municípios e lhe prepare um bom palanque. Neste
quesito, ele perdeu tempo nos quinze meses à frente da Prefeitura. Não
soube recuperar ao menos um pouco do “território” que o antigo PFL
tivera nos áureos tempos. Ele poderia ter feito isto, mas não o quis.
Titubeou. Ainda que ele não pensasse, de início, em candidatar-se a
governador, ele deveria ter reestruturado o DEM, que, enquanto PFL, em
2006, ele deixou que outros o abocanhassem em grande parte. João perdeu a
reeleição em 2006 porque, primeiro, perdeu para ele mesmo, quando
deixou que muitos membros do seu partido e de partidos aliados, com
mandato ou sem mandato, fossem cooptados por uma base aliada que,
depois, se voltou contra ele, em 2010. Estratégia errada de João! Nem
sempre os sabichões são tão sabidos assim. Há de ter sempre um ponto
obscuro que eles não conseguem enxergar.
É isto, porém. Todos querem João. E João quer a quem? Ou o quê?
Como alardeiam os seus seguidores, João está com as gavetas, as estantes ou os computadores cheios de projetos, sobretudo os desenvolvidos
pela equipe de Jaime Lerner. Projetos que não podem ser executados em
um só mandato de quatro anos. Ele vai querer executá-los? Se for, terá
que ficar na Prefeitura. Mas, ficando, ele terá de mudar o rumo de parte
da gestão, que anda capenga. Parte anda bem. Outra, entretanto, não
disse ainda a que veio. Será que só João não enxerga isto? Onde está o
gestor arguto de outrora, que de tudo sabia e de tudo queria saber? Que
tinha a gestão em suas mãos, dando ordens, dizendo o que fazer e
cobrando providências? Ora, ora, ora... É este João que tem enchido os
olhos de Jackson e Amorim. Ninguém há de negar que o seu apoio é bom
para qualquer dos dois lados. Todavia, João não é a salvação para nenhum
deles. Não será ou não seria João, por si só, o peso a desequilibrar a
balança. Ele será ou seria, sim, parte do caminho andado. Parte. Jackson
e Amorim não estão de todo errados em querer o apoio do prefeito
aracajuano. Ao contrário, estão certíssimos. Se eles, porém, entenderem
que João tem o anzol, a isca e o peixe nas mãos, estão redondamente
enganados. Nem todos que almejam votar em João, principalmente no
interior, se deixarão levar como cordeiros para qualquer um dos lados.
Será preciso cativar o eleitorado de João. E um dos dois lados terá
maior chance de cativar. Será melhormente ouvido. Caso João opte por um
dos lados, terá ele mesmo de demonstrar, primeiramente, quais serão os
benefícios para Sergipe e para os sergipanos que resultarão do seu apoio
a Jackson ou a Amorim. Estratégias terão que ser bem delineadas. E o
lado que por ventura venha a receber o apoio de João deverá se preparar
para o fogo inimigo. Sim, porque quem não receber o apoio de João haverá
de bater duas vezes, nele e no candidato a governador que ele apoiar.
Fogo duplo. Concentrado. Não faltarão morteiros, minas, tanques e toda
sorte de artilharia. Os céus da política sergipana haverão de se
enegrecer. Lamentavelmente. Eu sei que os leitores e as leitoras não
gostam de campanhas eleitorais “sujas”. Não é mesmo? Eu também não
gosto.
E se João, apesar de algumas fraquezas, como mostradas acima, decidir
pela candidatura própria? Ainda assim, ele poderá constituir-se na
principal opção do eleitorado, como até agora apontam as pesquisas. Até
agora. Na campanha, se candidato vier a ser, ele deverá mexer-se com
muito mais desenvoltura do que tem se mexido no comando da Prefeitura de
Aracaju. Se isto não lhe ocorrer, ele poderá ficar pelo caminho,
minguando nas pesquisas. Se ele for candidato e deixar que o embate se
polarize entre Jackson e Amorim, ele, que tem tudo para ser a primeira
via, poderá acabar como terceira. João penou para levar avante a
campanha de prefeito, em 2012. A estrutura que ele teve não foi das
melhores. Por exemplo, o comando da campanha sofreu para conseguir
ônibus para fazer o transporte de pessoas dos bairros para o lançamento
oficial da candidatura, numa quarta-feira à noite, na Av. Ivo do Prado. O
coordenador da campanha, Walker Carvalho (que Deus lhe conceda saúde!),
deve lembrar muito bem disto. Branca de Neve, que cuidava das
mobilizações de ruas também deve lembrar. E sabem como foram feitos os
últimos arranjos para aquela noite. Eu também sei. E como sei! A
campanha foi difícil. Tanto é que João venceu com apenas 52% dos votos
válidos, em números redondos, o candidato da situação, “o menino do
trenzinho”, como os alvistas denominavam o jovem deputado federal
Valadares Filho. E, a bem da verdade, o “menino” até que se houve bem,
dadas as circunstâncias. Eleições... Caixas de surpresa. Ninguém vence
uma eleição somente com o coração. Como disse Napoleão Bonaparte: “O
coração de um estadista reside em sua cabeça”. E como diz o dito
popular: “Cabeça não foi feita apenas para usar chapéus”. De couro ou
não.
(*) Publicado no Jornal da Cidade, edição de 16 e 17 de março de 2014.
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