TV Sergipe, Jailton Santana e o assédio
Quem leu alguns dos jornais impressos de Aracaju nessa segunda-feira
verificou que a TV Sergipe divulgou uma carta pública “à sociedade
sergipana”, em que faz uma autopromoção ao afirmar que, mesmo a
negociação salarial entre os sindicatos de jornalistas e radialistas e
os sindicatos patronais não tendo sido concluída, a emissora de maior
audiência do estado se antecipou e já pagou o reajuste salarial dos seus
funcionários.
Destaco aqui o quarto parágrafo da carta, que ocupa uma página inteira
de jornal, em que a diretoria da TV Sergipe afirma: “...conceder mais do
que o que determinam as leis trabalhistas e a convenção coletiva, além
de representar a valorização do trabalho e o respeito ao trabalhador, é também a satisfação pela certeza de que isso contribui para o estabelecimento de relações de trabalho mais saudáveis e mais realizadoras”.
Não desejo aqui entrar na discussão sobre o pagamento do reajuste
salarial da TV sergipe aos seus funcionários (o que pode ser feito em
outro momento). Mas utilizo a carta da TV Sergipe para lembrar que
respeito ao trabalhador não se concretiza apenas com pagamento de
salários. Respeito ao trabalhador se realiza com pagamento do seu
salário e todos os demais direitos, cumprimento da sua jornada de
trabalho, mas, acima de tudo, com respeito à sua dignidade.
E aí, parece que a TV de maior audiência do estado está longe de
respeitar os direitos e a dignidade das mulheres que por lá trabalham. É
que, apenas um dia depois da carta panfletária da TV Sergipe, chegou às
mãos da imprensa local uma denúncia de assédio do diretor de jornalismo
da emissora, Roberto Gonçalves, contra a jornalista Sayonara Hygia.
Será que a TV Sergipe emitirá uma carta à sociedade sergipana sobre esse
caso? Ou a emissora vai silenciar diante dessa grave denúncia? Ou
melhor, será assim que a TV Sergipe estabelece “relações de trabalho
mais saudáveis”?
O caso, que já está na Justiça, provocou rebuliço também nos programas
de rádio de Aracaju. Mas quem esperava repúdio e indignação dos
jornalistas e radialistas frente à denúncia de um caso de violência
contra a mulher, se assustou ao ouvir uma série de atrocidades. A maior,
certamente, saiu da boca do radialista e vereador de Aracaju pelo PSC,
Jailton Santana, durante o seu programa matinal. Ao citar a denúncia de
assédio, em tom irônico, Jailton fez diversas brincadeiras até disparar:
“...imagina se o diretor de jornalismo da TV Sergipe visse a jornalista
fazendo cooper ali na 13 de Julho, com um macaquito preto que
ela tem. É um espetáculo, eu vi e quase bati o carro com o tamanho da
'criança' [referindo-se à roupa utilizada pela jornalista]”.
Ao tratar a mulher como um objeto e o corpo feminino como um “convite”,
Jailton Santana naturaliza o assédio sexual. Assédio sexual que não é
brincadeira, mas um crime. Um crime que, segundo pesquisa realizada pela
Fundação Perseu Abramo, atinge 11% das trabalhadoras brasileiras. Um
crime que já foi cometido – de acordo com a Organização Internacional do
Trabalho – contra 52% das trabalhadoras em todo o mundo.
Ao ser criticado por inúmeras pessoas através de uma rede social na
internet, Jailton Santana não se arrependeu da sua medíocre e opressora
afirmação e ainda disse que “quem não gostou, é só mudar de rádio. É
simples”.
Não Jailton, não é tão simples assim. Rádio é um veículo de
radiodifusão, um serviço público explorado por meio de concessão pública
que tem uma série de princípios constitucionais, entre os quais o
respeito à dignidade e aos direitos humanos. Não são os ouvintes que
devem mudar de estação, é você que deve rever as suas opiniões e
respeitar a dignidade humana.
Caso se comprove o assédio do diretor de jornalismo da TV Sergipe à
jornalista Sayonara Hygia, Roberto Gonçalves se igualará a Jailton
Santana como péssimos exemplos para a comunicação sergipana, como
profissionais repugnantes que apenas nos causam vergonha e revolta.
FONTE: INFONET
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